O inimigo que veio do fracasso – A quinta temporada de “Slow Horses” está mais política do que nunca

Jackson Lamb chama seus homens de "Joes", uma gíria do Serviço Secreto. Mas ele fala com eles como se fossem as criaturas mais desprezíveis já colocadas no banco dos réus na Terra.
Lamb, interpretado por Gary Oldman, foi um dos melhores homens da agência de inteligência doméstica britânica MI5 em seu auge. Na velhice, ele comanda a "Slough House", um purgatório onde agentes juniores incompetentes são colocados fora de ação. Ele intimida alegremente os jovens fracassados que esperam por reabilitação.
Mas ele está, escondido no fundo, talvez na única célula vermelha do seu coração cinzento (nós, românticos entre seus espectadores, sabemos disso), orgulhoso de sua equipe. Seus "Joes" especiais, que, em uma emergência, apesar de todo o caos em suas almas, funcionam. O que eles provam — desta vez tardiamente — também na quinta temporada daquela que é indiscutivelmente a série mais engraçada da Apple TV+, além de "Ted Lasso".
No início, pouco antes das eleições para prefeito de Londres – nas quais o candidato liberal Jaffrey (Nick Mohammed) concorre contra o desafiante populista de direita Gimball (Christopher Villiers) com o slogan um tanto forçado "Vamos tornar Londres uma Londres cheia" – um atirador mata onze pessoas. Ele próprio é então liquidado por um grupo terrorista que, após o massacre, realiza ações bastante peculiares – contra veículos motorizados e pinguins de zoológico.
Lamb devora um café da manhã gorduroso no Beppe's Café e se pergunta o que sua equipe tem a ver com esse ataque. Bem, seu homem digital, o notoriamente repulsivo e falastrão Roddy Ho (Christopher Chung), encontrou uma linda namorada, o que alarma seus colegas descrentes.
O chefe da equipe, Jackson Lamb, anuncia uma pausa para ir ao banheiro
O amor realmente cegou Ho, e ele deixou sua amada sozinha com seu computador do serviço secreto por um breve momento quando o entregador de pizza ligou. Desta vez, este não é o único erro gritante cometido pelos "cavalos mancos" que dão nome à série.

A tensão é, como de costume, contrabalançada por diálogos que constantemente puxam os cantos da boca em direção às orelhas. O humor não tem limites. Por minutos a fio, tudo gira em torno de flatulência e fezes. "Acho que um Donald está chegando!" Lamb anuncia seu desejo de usar o banheiro para um guarda enojado. E um vilão político do tipo "divisor" é ceifado pela morte de uma forma que não lhe resta outra escolha a não ser cair na gargalhada.
A trilha então leva a um país que até agora recebeu pouca atenção em histórias de espionagem. O pano de fundo é o fracasso total do governo de David Cameron após a derrubada do regime líbio de Kadafi em 2011. Quatorze anos depois, os filhos daqueles que ficaram com gângsteres e milícias prestam homenagem à política britânica reativa e estrategicamente infundada para a Líbia, que Barack Obama descreveu como um "show de merda".
A liderança do MI-5 também apresenta deficiências no profissionalismo da inteligência. Enquanto a assistente, "Lady Di" Taverner (Kristin Scott Thomas), é em grande parte impecável, seu superior, Claude Whelan (James Callis), conhecido como "Primeiro Oficial", é tão intrigante quanto incompetente. Uma figura em declínio, representante de um desenvolvimento internacional no qual os interesses britânicos, franceses ou mesmo alemães não podem mais almejar a prioridade internacional como antes.
Uma dúzia de histórias de Lamb foram traduzidas para o alemãoCom sua abordagem "os perdedores têm tudo dentro de si", Mick Herron vendeu milhões de romances e novelas em todo o mundo. Seu 14º caso Jackson-Lamb, "Clown Town", foi publicado há poucos dias. Em sua resenha do romance "London Rules", o jornalista cultural Mark Lawson, do jornal britânico "The Guardian", chamou-o de "uma subversão selvagem dos livros de John le Carré sobre George Smiley, tanto na caracterização quanto no tom".
E os cavalos de Lamb são comoventes em sua qualidade tragicômica. Do autoconfiante River (Jack Lowden), que não consegue superar sua reprovação no exame final do MI5, à maternal Catherine (Saskia Reeves), uma alcoólatra em recuperação que se vê como uma solteirona, todos se sentem solitários. Apenas Coe (Tom Brooke), o novato assustador que parece um membro da Família Addams sob o capuz do moletom, afirma que consegue lidar com a solidão. Mas não acreditamos nele.
Como sabemos do amor de Lamb por seu rebanho? Bem, em uma cena, enquanto ele olha pela janela para Shirley (Aimee-Ffion Edwards), que está observando na rua, ele diz carinhosamente: "Dê a ela uma espada e um capacete, e ela parecerá um pequeno hobbit corajoso."
“Slow Horses”, 5ª temporada, seis episódios, de Mick Herron, com Gary Oldman, Jack Lowden, Nick Mohammed, Saskia Reeves, Christopher Chung, Kristin Scott Thomas, Aimee Ffion-Edwards, Jonathan Pryce, James Callis, Ruth Bradley (na Apple TV+ a partir de 24 de setembro)
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